Revista científica da área das Ciências Sociais criada em 1977 e editada pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER).
ISSN: 0100-8587 | 1984-0438
Edilson Pereira Universidade Federal do Rio de Janeiro
João Leal Universidade Nova de Lisboa
01 de outubro de 2025
A revista Religião & Sociedade convida pesquisadoras e pesquisadores a submeterem artigos e ensaios visuais ao dossiê Imagem e Ritual. São bem-vindos trabalhos que abordem os temas e suas conexões de maneira expandida, incluindo artefatos visuais (físicos, digitais ou virtuais) e eventos cíclicos ou ocasionais diversos. O dossiê busca colocar em diálogo o estudo dos rituais e suas performances com o campo das imagens e da visualidade. A abordagem dos temas pode se dar por diferentes vias, dentre as quais destacamos três frentes de análise:
A primeira considera a presença das imagens nos ritos e analisa os modos pelos quais elas operam nesses contextos. Consagrações, devoções e gestos iconoclastas são práticas que “ativam” as imagens e produzem efeitos tanto no ritual quanto na esfera social mais ampla. Traçar a biografia das imagens, dentro e fora dos rituais — seus usos, cuidados ou censura — constitui uma via de análise que revela aspectos centrais de algumas comunidades e de seus agentes, humanos e não humanos.
Outra frente reconhece que a produção intencional de registros (em fotografia, vídeo, cinema, desenho) colabora na singularização de eventos e em sua ritualização. Aquilo que merece ser registrado e exibido pode ser, por esse gesto, reconhecido como distinto da vida cotidiana. Além disso, as condições e as interdições do registro visual de rituais podem ser fator de coesão ou de tensão social — seja entre os protagonistas do rito (com suas próprias câmeras) ou entre pesquisadoras/es e profissionais da imagem interessados nas ações dos primeiros. Os desafios de registrar, expor e arquivar são temas integrados a esta frente de estudo.
O dossiê também estimula a revisão das histórias de documentação de rituais na antropologia e nas artes. Há mais de um século, etnógrafas/os, documentaristas e suas/seus interlocutoras/es colaboram no registro de ritos em várias partes do mundo. Seus arquivos não apenas preservam a memória dos eventos, mas reconfiguram modos de ver, narrar e compreender tais práticas. Com o passar do tempo, alguns se tornaram referência epistêmica e metodológica, enquanto novas linguagens e realizadores despontam na cena atual. Obras etnográficas e artísticas são tanto ferramentas conceituais quanto materiais de análise crítica, úteis para abordar a relação entre imagem e ritual. Cabe atentar às tradições e traduções que os interligam.