O crescimento global de grupos conservadores, extremistas e à direita em interface com linguagens e atores religiosos coloca novas questões para os cientistas sociais da religião. Embora de formas e intensidades diferentes, essa mobilização da religião (linguagens, estéticas, igrejas, atores, comunidades etc.) como parte de projetos conservadores é observada em vários países e continentes. Essas novas configurações políticas se combinam à emergência de expressivos discursos de hostilidades às diversidades étnico-raciais, sexuais e de gênero, mediante, em muitos casos, à ocupação da gestão governamental desafiando democracias em países no norte e sul globais.
Somado a isso, a recente Pandemia da COVID-19 revelou a fragilidade e a importância de políticas públicas de saúde, as desigualdades estruturantes em sociedades de economia neoliberal, a acentuação do vilipêndio de minorias sociais e a atuação destacada de religiosos em controvérsias públicas em várias dessas agendas e situações. Em paralelo, observa-se uma organização política de forças reconhecidas como populares, progressistas e/ou à esquerda em diferentes tradições religiosas com vistas a transformar suas próprias comunidades de fé e a sociedade, norteadas por valores democráticos, humanistas e também religiosos.
Neste dossiê buscamos reunir resultados de pesquisas originais, qualitativas e/ou quantitativas, etnográficas e/ou documentais, dirigidas à compreensão do cenário político atual em contexto nacional e internacional envolvendo controvérsias, disputas e alianças em torno da criação, manutenção ou supressão de políticas públicas, de narrativas e alianças em prol de liberdade, da garantia de ideais de tradição e laicidade, de direitos para mulheres, negros, indígenas e para a população LGBTQIA+.